10 de setembro de 2008

De Amarante à capital da Lusitânia, em sidecar - 4

Trancoso



Trancoso – Sabugal, 2008.06.12

Amanhecemos em Trancoso, depois de uma noite de sono reparador e de na véspera termos ficado a conhecer o seu centro histórico by night, ou quase.

Trancoso é uma antiquíssima vila, tornada recentemente cidade, que por mérito das suas características e estado de preservação faz parte do programa das “Aldeias Históricas de Portugal”. Contido pela imponente cintura de muralhas e dominado pelo altaneiro castelo medieval, o seu centro é realmente um repositório de história e urbanidade. A entrada nobre neste núcleo faz-se pelas magníficas Portas d’El Rei – referência a D. Dinis, que muito contribui para o desenvolvimento desta terra e aqui casou com Isabel de Aragão, a Rainha Santa – ou pelas igualmente notáveis Portas do Prado.

Ao lusco-fusco, percorremos a pé as principais artérias; apreciámos o Pelourinho manuelino frente à Igreja da Misericórdia; fotografámos a estátua do Bandarra (poeta-sapateiro-profeta); e vimos, de relance, a casa-quartel do General Beresford e o Palácio Ducal a ser transformado em hotel. Apesar de, àquela hora, a maior parte dos estabelecimentos e serviços estarem encerrados, e as ruas quase desertas, pressentimos nas montras, na atmosfera dos lugares públicos e na restante "aragem" o fôlego do progresso; e percebemos que esta preservação da herança do passado, em Trancoso, tem muito mais a ver com dinâmica inteligência do que com pacato imobilismo.

Preparamo-nos para a partida. Verifico os níveis: um depósito de gasolina já quase se foi e é preciso atestar; o óleo está normal e a bateria também.
Com um impulso seco do pé no kick starter, faço o motor da Dnepr arrancar à primeira. «Linda menina!», murmura a "pendura" - e, divertida, dá umas palmadinhas no depósito da moto como quem afaga o pescoço da sua montada.
Deixamos Trancoso, tendo o Sabugal por destino da jornada.



Pinhel


Primeira escala em Pinhel.
Visitamos o Museu Municipal, subimos à Cidadela e às suas duas Torres e, na volta, descemos errando pelas ruelas da cidade velha, sob o sol do meio-dia.
Ao regressarmos ao sidecar, que deixáramos junto ao posto de turismo, deparamos com uma moderna BMW GS 1200, repleta de excelente equipamento de viagem, estacionada mesmo ao lado. É de um jovem casal que piquenica à sombra da capela próxima e que interrompe o seu repasto para vir falar connosco. Tinham ficado curiosos com o nosso veículo e intrigados com a remota semelhança dos motores boxer de ambas as máquinas. Revelam-nos que também eles estão a percorrer as aldeias históricas da raia e aconselham-nos a visitar Almeida, donde acabam de chegar.



Almeida

É esse, precisamente, o nosso próximo destino: Almeida, a "Estrela do Interior". Uma imensa fortaleza, de forma estelar, magnificamente conservada, que alberga toda uma pitoresca vila, com a sua elegante pousada, um famoso picadeiro e muitos outros pontos de interesse; para além, naturalmente, das monumentais antigas instalações militares. Aliás, Almeida, que foi a mais importante fortificação da região, entre os séculos XVII e XIX, só em 1927 perdeu a função de praça de guerra.

Almoçamos, fazemos a ronda dos baluartes, descansamos um pouco no exuberante Jardim do Coreto e, à saída pelas Portas de Santo António, visitamos demoradamente o Centro de Estudos de Arquitectura Militar, ouvindo as explicações das prestáveis guias.

Castelo Mendo


Partimos em direcção a Castelo Mendo – outra genuína aldeia histórica edificada no alto de um monte, rodeada de muralhas – e daí para a nossa meta do dia: a cidade do Sabugal.

É uma excelente sensação rolar assim, "de ar na venta", ao fim da tarde, por estas terras de Riba Côa: o ar morno e leve; a paisagem a variar entre a extensão dos planaltos, os vales profundos e as elevações rochosas, onde se empoleiram povoados de outros tempos. As estradas, bem pavimentadas e sem excessivo trânsito, permitem que o sidecar progrida facilmente. Melhor que as nossas melhores expectativas!

Castelo do Sabugal

Sobre este final de etapa, anotou a "pendura" no seu diário: «Seguimos então para o Sabugal, em direcção ao Castelo, já fechado por volta das 19:30. O João dirigiu-se a uma loja tipo "posto de turismo", onde uma senhora muito simpática lhe indicou onde podíamos assentar arraiais, com abrigo para a montada, e, claro, onde jantar. A tal senhora é a proprietária da "Casa do Castelo", em cujas obras foi descoberto um altar judeu – espantoso! Amanhã vamos lá visitar a casa e conhecer o centro histórico do Sabugal.»

JM

3 comentários:

PB Pereira disse...

Parabéns por esta fantástica descrição e pelas bonitas fotos.
Depois de ler esta crónica dá vontade de arranjar um side-car e partir amanhã manhãzinha. Sem atrasos.

PB Pereira disse...

E parabéns à "linda menina".

PB Pereira disse...

A AAAA poderia organizar um Passeio no próximo ano por estas paragens. Talvez em dois dias. É uma zona do país muito bonita.