Bom, fim da pausa para o café. Programamos o GPS para a rota mais curta com destino a Penedono - aqui tenho de confessar que nunca preparámos minimamente os itinerários... - e arrancamos para a estrada que vai para o Pinhão.
Chegados aqui, somos obrigados a parar por alguns momentos, pois tanto a moto como o condutor estão a arfar. Só a "pendura" se mantém, serena, no seu berço, do qual não faz, sequer, menção de sair para esticar as pernas. Os últimos quilómetros foram sempre a subir, a subir, curvas e contra-curvas, o motor a exigir frequentes mudanças de caixa e o calor a apertar; mas tudo compensado pela imponente e original paisagem dos socalcos de xisto e vinha da mais antiga região demarcada do Mundo: verdadeiros monumentos ao empreendedorismo visionário - sem o qual nunca teriam acontecido - e ao trabalho hercúleo de gente humilde - sem o qual nunca teriam sido feitos!
Castelo de Penedono, com o Pelourinho em primeiro plano.
Custa-nos deixar Penedono com tanto por ver, mas o fim da jornada ainda está longe e a tarde avança. Mais uma vez, socorremo-nos do GPS para escolher o caminho mais curto até Marialva (26 km), que nos leva a uma breve passagem pela cidade da Mêda e nos introduz no "planalto das lendas".

Marialva
Marialva - aldeia histórica - é um caso sério, pela positiva, de preservação e recuperação do património edificado. As suas origens mais remotas são atribuídas à cidade Aravor, fundada pelos Túrdulos (onde é que os amarantinos já ouviram isto...?) no séc. VI a.C. Seguiram-se-lhes os Romanos, os Godos e os Árabes, que terão dado à cidadela o nome de Malva - transformado em Marialva aquando da sua reconquista por D. Fernando Magno de Leão, em 1063. A partir do séc. XIII, os Judeus começam a fixar-se em Marialva e, no reinado de D. Manuel, formam mesmo uma judiaria. D. Afonso V dá o título de Conde Marialva a D. Vasco Coutinho - irmão do Magriço - em 1440.
E muito mais haveria a saber sobre a história de Marialva se não estivéssemos tão ocupados a encher os sentidos com a atmosfera das ruelas, das cangostas e de todos os recantos onde a força das pernas nos conseguiu levar.
As intervenções arquitectónicas mais recentes são, em regra, de uma qualidade assinalável, sem mimetismos pitorescos, mas também sem descabidas manifestações egóticas. O equilíbrio, a sensibilidade, o respeito pela História e o rigor da modernidade, são, felizmente, a marca dominante das obras que vemos - um caso de referência!
Entretanto, o céu começa a encobrir-se com pesadas nuvens vindas de noroeste e caem mesmo, espaçados, alguns gossos pingos de chuva.
A perspectiva de apanharmos com uma valente carga de água - nada agradável para um motard, mesmo em três rodas - faz-nos ponderar a hipótese de encontrar alojamento no local. As "casas de campo" (TER) disponíveis são de topo de gama e com preços correspondentes, mas não nos garantem o abrigo da nossa montada. A "pendura", forreta e empenhada em cumprir a etapa do dia - pudera, tem o pára-brisas e o tonneau do carrinho... - é de opinião que nos façamos à estrada. E assim fazemos, em andamento vivo, para sul, procurando fugir à intempérie.
As muralhas de Trancoso


2 comentários:
Parabéns pelos pormenores históricos, culturais e arquitectónicos.
E pelas bonitas fotos.
Enviar um comentário